Discurso da doença, imaginário sanitarista e desenvolvimento nas páginas do Jornal do Brasil:
repensando a intervenção estatal no Vale do Jequitinhonha
Palavras-chave:
Estado, Desenvolvimento, Doença, Política pública, Vale do JequitinhonhaResumo
Este artigo tem como objetivo analisar a relação entre o discurso da doença e a agenda desenvolvimentista implementada pelo Estado brasileiro no Vale do Jequitinhonha em meados do século XX. É conhecida a associação do Vale do Jequitinhonha à ideia de “Vale da Miséria”, criticada em pesquisas acadêmicas. No entanto, considerando as análises sobre o projeto desenvolvimentista, parece haver uma lacuna no que se refere à relação entre o discurso da doença e as representações da pobreza na região. Este trabalho aborda a hipótese de que as narrativas sobre o Vale do Jequitinhonha, tal como construídas pela imprensa a partir dos anos de 1960, atualizam o imaginário sanitarista do interior como símbolo do “Brasil doente”. Foram analisadas notícias veiculadas no Jornal do Brasil entre 1960 e 1979. Esses textos atestam a representação da doença como sintoma de atraso econômico, convalidando a ideia de que se trata de um “problema público” que merece intervenção estatal.
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